Danos térmicos no cabelo x protetor térmico


Há tempos que a vaidade e a busca para conseguir deixar os cabelos mais lisos ou bem modelados é indiscutível. Na Década de 70 explode nos salões de beleza o corte com os cabelos molhados e, ao mesmo tempo com ele o Brushing (escova). Afinal, a modelagem nas madeixas saem dos bobs e dos secadores quentes em pé, para os secadores e escovas manuais. Assim, proporcionando modelagens singulares onde se busca outro formato de cabelos e penteados.

Posteriormente, nos meados da década de 90 as pranchas ou “chapinhas” entram em cena trazendo resultados extremamente lisos, até nos cabelos mais difíceis de alisar, e com elas temperaturas altíssimas, acima de 200°. Algumas vezes mudando definitivamente  a estrutura do fio tamanha exposição ao calor. É fato que todo esse calor pode sim,  danificar e muito a fibra capilar já que a evaporação da água nos cabelos nessas técnicas é evidente. 

Em suma, o excesso de calor,  advindo das pranchas alisantes, trouxe no mundo dos cosméticos para cabelos, os famosos protetores térmicos capilares (os leaven’s - cremes oclusivos sem enxague). A princípio, eles criam uma película protetora na fibra para minimizar os efeitos nocivos dessas temperaturas no contato com os cabelos. Mas mesmo assim, por melhor que seja a qualidade desse cosmético, não há cabelo que aguente sucessivas chapinhas semanais a temperaturas acima de 200 graus.

Portanto, nada que eu disse até aqui é novidade e a maioria dos usuários conhecem bem esses malefícios. Porém, nesse mercado disputadíssimo da cosmética e tecnologia capilar aliada a certos padrões de beleza, muitas vezes esses danos são deixados de lado ou esquecidos.

Por isso, resolvi trazer informações necessárias para você entender como os danos térmicos no cabelo acontecem, quais os principais danos e como atuam os protetores térmicos capilares.

A HASTE CAPILAR – Visão “macro” (Figura 1)

A formação da haste do cabelo é:

  • Cutícula - camada mais externa, parecida com escamas de peixe, protetora do cortéx e dá o brilho e a textura ao cabelo
  • Cortéx é a maior camada, dá a resistência, a elasticidade e a forma do cabelo (liso ou encaracolado)
  • Medula - camada mais interna

Hasta Capilar - Figura 1

HASTE CAPILAR – Visão “micro” (Figura 2)

  • Principal componente:  proteínas (alfa)α-queratinas consistem em fibras proteicas enroladas em hélice com moléculas interligadas por pontes de hidrogênio, e em menor proporção, também ligações de pontes de dissulfureto. Essa conformação química confere ao cabelo mais elasticidade e flexibilidade que as unhas que são mais duras, mas ainda lhe dá resistência e rigidez, dando maior resistência à danos químicos e físicos.
  • Outro componente encontrado são os lipídeos, sebo rico em triglicerídeos e colesterol produzido pela glândula sebácea, e que funciona como uma cera na superfície do fio e couro cabeludo, mantendo a maleabilidade do fio.

Estrutura capilar -Figura 2

COMO ACONTECE O DANO TÉRMICO NO CABELO

Entendemos que o alisamento de cabelo por calor promove a evaporação da água e por isso desliga as ligações de hidrogênio. 

No entanto, se a utilização do calor for com a temperatura correta para cada tipo de fibra capilar, só afetará as ligações de hidrogênio entre a água e os aminoácidos, e não causará danos. 

O problema está se houver erro no ajuste da temperatura e/ou permanência longa no contato. Pois assim, pode ocorrer a evaporação acentuada de átomos de hidrogênio (H) em ligações importantes para a sustentação dos caracteres de uma alfa queratina, transformando-a em uma estrutura parecida com a da beta queratina que não tem resistência e elasticidade. E, por isso, pode ocorrer o dano ao tracionar o cabelo em um simples gesto de pentear.

Ligações de hidrogênio - Figura 3

Alfa e beta queratina - Figura 4

DANOS TÉRMICOS CAPILARES

  1. TRICOPTILOSE – é a famosa “ponta dupla”, quando ocorre a separação longitudinal de extremidade distal da haste capilar (Figura 5).
  2. TRICORREX NODOSA ADQUIRIDA – são estruturas que se formam ao longo da haste capilar, chamadas “escovinhas”, antes da fratura completa da haste (Figura 6).
  3. PELO EM BOLHA (BUBBLE HAIR) – formação de bolhas no interior da haste causada pela exposição do cabelo úmido a temperaturas muito elevadas e a evaporação de muita água, deixando espaços vazios (Figura 7).
  4. PELO FRATURADO – pelo quebrado.

Tricoscopia de tricoptilose  (Atlas de Tricoscopia Dra Rudnicka) - Figura 5

Tricoscopia de tricorrexe nodosa (Atlas de Tricoscopia Dra Rudnicka) - Figura 6

Tricoscopia de bubble hair (Dermatoscopia de cabelos e unhas Dra Antonella Tosti) - Figura 7

PROTETORES TÉRMICOS

Os produtos de proteção térmica são capazes de formar estruturas semelhantes a filmes sobre as fibras capilares. Eles suavizam as imperfeições do cabelo e ajudam a protegê-lo da perda extrema de água interna causada por altas temperaturas ou longos tempos de exposição. 

A maioria das versões industrializadas desse produto costumam ter uma mistura de dois ingredientes, a ciclometicona e a dimeticona. Trabalho recentemente publicado (Photochem Photobiol B. 2020 Mar;204:111769) mostra a eficácia como protetores térmicos de polímeros selecionados, como copolímero de VP/acrilatos/lauril metacrilato, poliquaternium-55 e um complexo de polieletrólito de copolímero PVM / MA e poliquatérnio-28. São encontrados em spray, cremes ou óleos.

Portanto, não esqueçam que os danos térmicos capilares existem e exige o cuidado com as técnicas de escovação com secador e chapinhas, bem como a proteção térmica dos fios.

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Autora:
Dra Adriana Braz – Dermatologista SBD
CRM:4242 RQE:7585


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