Cuidados com a pele do idoso


A população idosa no Brasil, segundo o IBGE, mais que duplicou do século passado para esse. Enquanto se vivia 34 anos no passado, hoje se vive em média 74,96 anos (dados já atualizados após uma diminuição de 2 anos pelas mortes dos idosos pela COVID 19). Esse aumento considerável da expectativa de vida dos brasileiros, levou também a um aumento das alterações e doenças que ocorrem com o envelhecimento dos órgãos.

E, sem dúvidas, a pele por ser o maior órgão do corpo humano e externo, é onde percebemos primeiro os sinais do envelhecimento. Surgem os primeiros sinais no rosto: as rugas, manchas, flacidez, ressecamento, cabelos grisalhos e mais finos, unhas quebradiças, “vasinhos”... Enfim, efeito inexorável do tempo.

O envelhecimento da pele

A princípio pode ser dividido em intrínseco (interno) e extrínseco (externo). O primeiro, genético e cronológico, é decorrente do passar dos anos. Ao passo que o extrínseco resulta dos danos ambientais, principalmente da radiação ultravioleta (UV) emitida pelo sol (fotoenvelhecimento), além de outros fatores como tabagismo, profissão, hábitos nutricionais e poluição.

Grande parte das marcas que identificamos numa pele envelhecida é primordialmente consequência do fotoenvelhecimento. Assim, a exposição crônica à radiação solar por várias décadas é a principal responsável pelas modificações em nossa pele.

Doenças e alterações da pele mais frequentes nos idosos

Um importante estudo realizado pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), em 2006, investigou as principais queixas em mais de 50 mil consultas dermatológicas nas cinco regiões do Brasil. Conforme esta pesquisa os tumores cutâneos (benignos, pré-malignos e malignos), as micoses superficiais e o ressecamento/espessamento da pele são os problemas mais comuns nos brasileiros com 65 anos ou mais.

TUMORES CUTÂNEOS

Estes são muito frequentes nessa população, principalmente os cânceres de pele não melanoma, representado pelos carcinomas basocelular e espinocelular que atingem as áreas mais expostas ao sol (rosto, pescoço, antebraços e couro cabeludo dos calvos). O melanoma é menos frequente, porém muito agressivo, podendo surgir mais nas costas, pernas, rosto, couro cabeludo ou pescoço.

Não devemos esquecer das lesões pré-malignas, as ceratoses actínicas ou solares, pequenas manchas avermelhadas com textura áspera, ressecada, às vezes com escamas espessas e aderentes, muito frequentes no rosto e braços de pessoas claras. É considerada, em nosso país, a doença de pele mais comum na faixa etária dos 65 anos ou mais, conforme estudo citado anteriormente pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD).

Para prevenir essas lesões pré-malignas e malignas da pele se deve:

  • Evitar a exposição ao Sol sem a adequada proteção, especialmente no período de maior risco, entre 10h e 15h.
  • Usar filtro solar nas áreas expostas, roupas de fotoproteção, acessórios como óculos de sol, chapéu/boné/viseiras e guarda-sol/sombrinhas, por exemplo.
  • Realizar constantemente o auto-exame da pele - inspeção completa e cuidadosa da pele de todo o corpo, do couro cabeludo à sola dos pés, com a ajuda de espelhos e de um familiar. Dar especial atenção a cor, tamanho, relevo e formato das pintas e lesões na pele. Se detectar lesão nova e suspeita ou alteração numa pinta anterior, agendar uma consulta médica.
  • Exame completo da pele, se possível realizado anualmente, por um médico dermatologista.

Aqui faço uma ressalva com relação a uma frequente polêmica que envolve a exposição do sol, vitamina D e câncer de pele. A Sociedade Brasileira de Dermatologia, através do Consenso Brasileiro de Fotoproteção (2014), faz as seguintes recomendações:

1. A exposição ao Sol, de forma intencional e desprotegida, não deve ser considerada como fonte para a produção de vitamina D ou para a prevenção de sua deficiência; 
2. O uso de protetores solares com FPS superiores a 30 deve ser recomendado para todos os pacientes, acima de 6 meses, expostos ao Sol; 
3. Pacientes considerados como sendo de risco para o desenvolvimento de deficiência de vitamina D devem ser monitorados por exames periódicos e podem utilizar fontes dietéticas ou suplementação vitamínica para a prevenção de deficiência de vitamina D; 
4. Por fim, a SBD entende que a política para a prevenção ao câncer de pele, por meio da fotoproteção consciente, é a medida prioritária em termos de Saúde Pública para o Brasil, particularmente na área da Dermatologia.

MICOSES SUPERFICIAIS DA PELE E UNHAS

As micoses superficiais (pele e unhas) em idosos são bastante comuns e representam, no Brasil, a terceira queixa nos consultórios dermatológicos (SBD). São causadas por fungos, são contagiosas, podem transmitir para outras pessoas ou afetar outros locais no mesmo paciente. As “frieiras” e as micoses nas unhas dos pés são as mais frequentes. Constantemente causadas por três condições bastantes favoráveis: calor, umidade e falta de luz. Importante mencionar que, não raro, as micoses nos pés podem ser uma “porta de entrada” para uma doença mais séria, isso decorrente da fissura que causa na pele infectada.

Exemplos desse problema são: a erisipela e a celulite na perna, que ocorrem principalmente em indivíduos com mais de 60 anos, muitas vezes também portadores de outras enfermidades, como obesidade, sedentarismo, tabagismo, diabetes, etilismo ou com insuficiência de algum outro órgão. E como complicações, podem resultar em trombose venosa profunda ou infecções mais graves. Portanto, os cuidados com os pés são fundamentais, pois tanto a sustentação quanto o equilíbrio do nosso corpo dependem muito desse apoio.

ALGUMAS DICAS DE CUIDADOS COM OS PÉS

  • Lavar diariamente seus pés com sabonete, esfregando principalmente as áreas mais abafadas como o vão entre os dedos;
  • Secar muito bem os pés, logo após o banho. Se tiver micose, utilizar uma toalha exclusiva para este local ou, até mesmo, secador de cabelos no modo frio;
  • Utilizar calçados abertos, sempre que possível, para facilitar a ventilação e exposição da pele à luz. Se possível, expor a área acometida pela micose ao sol por 5 a 10 minutos por dia;
  • Evitar o uso de sapatos apertados ou sandálias que comprimem os dedos. Com o envelhecimento, alterações ósteo-articulares são muito comuns e os ossos dos pés também sofrem diminuição de sua densidade (osteopenia/osteoporose) e acumulam inflamações nas articulações (artrite/artrose). Como consequência, os dedos perdem alinhamento, movimento e flexibilidade habituais. Assim o calçado, não estando adaptado a essa nova realidade, pode agravar o problema.
  • Se houver calos na região plantar, avaliar a necessidade de colocar uma palmilha de silicone no calçado ou tênis (ajudam no alívio da dor). Na presença de calosidades na lateral ou topo dos dedos dos pés, alguns dispositivos que atuam como separadores dos dedos podem aliviar o desconforto causado pela compressão entre um osso e outro (separador interdigital de silicone);
  • Cortar as unhas após o banho (ficam mais amolecidas) e evite adentrar muito com o alicate nos cantos. Não remover as cutículas (elas atuam como proteção natural contra inflamações e infecções da pele e unhas); Não compartilhar materiais em manicures e podólogos;
  • Inspecionar regularmente seus pés com relação a vermelhidões, alterações de temperatura na pele (esfriamento ou “calor” local), cortes (fissuras), calos, verrugas, feridas, úlceras ou mudanças na circulação (pele azulada ou pálida). Se precisar, peça que alguém o ajude nesta tarefa (pacientes diabéticos, em especial, podem ter algum ferimento, não perceberem e isso gerar úlceras difíceis de cicatrizar-se, devido a uma alteração na inervação da pele, decorrente do diabetes).

PELE SECA E FRAGILIDADE CUTÂNEA

Com o envelhecimento, o ressecamento da pele do corpo é uma regra, devido a diminuição da produção de suor e óleo pelas glândulas. Os braços e as pernas, principalmente, abaixo dos joelhos, são as zonas mais secas de todo tegumento. Além de causarem incômodo pelo aspecto áspero e envelhecido, podem resultar em prurido persistente e até gerar alergias (dermatites). Ao mesmo tempo, estas podem ser causadas pelo contato com substâncias irritantes como sabonete, cremes cosméticos ou componentes da própria roupa. Infecções bacterianas podem complicar esse quadro.

Para evitar a pele seca, alergias e feridas:

  • Ingerir água com frequência (lembre-se que o idoso tem menos sede e, portanto, é mais propenso à desidratação);
  • Evitar banhos quentes e demorados (máximo de 5 minutos);
  • Não usar buchas ou esponjas, pois reduzem a proteção da pele, aumentam o ressecamento e o risco de alergias;
  • Usar sabonetes suaves ou neutros.
  • Logo depois do banho, secar, suavemente, a pele das pernas e braços com a toalha (fricção exagerada, especialmente nos antebraços, pode gerar manchas roxas, também chamadas de púrpuras senis). Esse fenômeno se dá pelo fato da pele do idoso ser mais fina e frágil, resultado da diminuição importante de colágeno, e os vasos ficam mais propensos a romperem e extravasam sangue. Tal problema costuma ocorrer em outras atividades do dia a dia que podem atritar ou ferir a pele fina, como na jardinagem, limpeza da casa, esportes, cuidado dos netos…
  • Hidratar, diariamente, a pele do corpo, principalmente os braços e pernas (áreas mais secas), com cremes ou loções (sem fragrâncias). O momento mais propício para esse procedimento é após o banho, pois, assim, a eficácia da hidratação aumenta.

Sendo assim, um país enorme, de dimensões continentais como o Brasil, necessita cada vez mais de políticas públicas que dê à pessoa idosa sua devida relevância na sociedade. Envelhecer é inexorável, porém envelhecer com qualidade é uma dádiva!

Autor: 
Dra Adriana Braz
CRM -PB: 4242 RQE: 7585


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