Alopecia induzida por quimioterapia


A alopecia induzida por quimioterapia (AIQ) é um dos eventos adversos imprevisíveis mais relatados na literatura em pacientes com câncer submetidos à quimioterapia. A princípio, ela acomete cerca de 65% destes pacientes. A alopecia induzida por quimioterapia define-se por uma queda aguda de cabelo, e até dos pelos corporais, após tratamento de quimioterapia.

Esse efeito adverso apresenta um impacto absurdo na qualidade de vida destes pacientes. Ao passo que alguns chegam a retardar ou até se recusar a tratar, em função dele e do risco de permanência da alopecia. Foi descrita como a condição mais perturbadora do tratamento do câncer pela maioria (88%) das mulheres que receberam quimioterapia perioperatória. Além disso, a AIQ tem uma forte influência sobre como as pessoas percebem os pacientes com câncer, a visibilidade da doença, as relações sociais e a sexualidade.

Contudo, a Alopecia induzida por quimioterapia (AIQ) depende do tipo de agente quimioterápico, dose, perfil farmacocinético, tratamentos combinados que empregam vários agentes citotóxicos de forma concomitante, via de administração e de fatores individuais (idade, comorbidades e estado nutricional/hormonal).

Agentes quimioterápicos que mais induzem a alopecia:

- Inibidores da topoisomerase (como irinotecano, etoposídeo, doxorrubicina) – 60 a 100%

- Taxanos (como docetaxel, paclitaxel) – > 80%

- Agentes alquilantes (como ciclofosfamida, ifosfamida) - > 60%

- Antimetabólitos (como 5FU, metotrexato, gencitabina) – menor risco

Mecanismo da alopecia

A maioria dos agentes quimioterápicos são fármacos citotóxicos que afetam as células cancerígenas em proliferação que são células com alto índice mitótico. Por isso, de forma não intencional, eles atingem também células normais com índice de proliferação alto, como as células da matriz do cabelo e da medula óssea.

O principal mecanismo da queda é o Eflúvio Anágeno. Como resultado, há o comprometimento do folículo anágeno (90% dos fios estão nessa fase proliferativa), atingindo os queratinócitos da matriz e o sistema pigmentar do cabelo, produzindo hastes distróficas (fracas), fratura da haste e queda do cabelo.

Outro mecanismo, menos frequente, é o Eflúvio Telógeno. Neste caso, o quimioterápico atinge o folículo piloso na fase final do anágeno, levando os folículos prematuramente para a fase telógena (fase de repouso e queda do cabelo).

Clínica

Caracteriza-se pela queda aguda da maioria dos cabelos (e até de pelos corporais), iniciando entre a segunda e terceira semana após iniciada a quimioterapia, voltando a repilar após 3 a 6 meses do término. Contudo, é bom lembrar que podem ser observadas alterações na textura, cor e/ou espessura do cabelo.

Risco de permanência

Eventualmente, a perda de cabelo pode ser persistente (AIQ persistente [AIQP]), definida como a ausência ou crescimento subótimo de cabelo que persiste além de seis meses após a interrupção da quimioterapia. A incidência de AIQP pode variar de 14% em  câncer infantil a 30% em  câncer de mama.

Na década de 1990, os primeiros casos relatados de AIQP ocorreram após regimes de quimioterapia em altas doses (bussulfano e ciclofosfamida) recebidos antes do transplante de medula óssea. Protocolos de tratamento que combinam radioterapia e quimioterapia com taxano também foram envolvidos na AIQP.

Como prevenir?

A prevenção deste efeito ainda é um desafio, pois não existem medicações que diminuam esse efeito adverso. Muitas estratégias têm sido testadas para minimizar a AIQ, entre as quais o resfriamento do couro cabeludo, que provou ser o mais eficaz. Devido às publicações recentes sobre sua eficácia e segurança como método preventivo contra a AIQ, esse procedimento tem sido cada vez mais empregado no Brasil e no mundo. As Diretrizes de Prática Clínica em Oncologia da National Comprehensive Cancer Network (NCCN) recentemente passaram a recomendar o tratamento de resfriamento do couro cabeludo para prevenção da AIQ (categoria 2A) para pacientes com câncer de mama.

No próximo artigo falarei com mais detalhes desse procedimento.

Dra. Adriana Braz

Dermatologista SBD

RQE: 7585


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